terça-feira, 26 de maio de 2015

Ventos de agosto

Eu sempre tive uma impressão estranha sobre o termo audiovisual, porque o “áudio” precede o “visual” na palavra e é exatamente o contrário que parece acontecer na maioria dos filmes. As imagens costumam ser mais importantes, mais comentadas, mais significativas. Só que o filme Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, utiliza muito, muito bem o som. E também as imagens. Não consigo decidir o que é mais significativo. 

Pesquisando aqui, achei o belo portfólio do diretor pernambucano (gente, Pernambuco tá com tudo!). Vi que ele dirigiu Domésticas. ~~Lembro que vi esse filme no começo da faculdade, mas não gostei muito. Não lembro porque, mas verei novamente e comentarei com mais propriedade porque  não gostei. Ou então venho aqui me redimir.~~

Mas, de volta ao Vento de agosto. Os primeiros 20 minutos não tem falas significativas. Só sons maravilhosos e imagens orgásticas. Êxtase ocular. Nossa senhora, é muito lindo. O som dos animais, do vento, tudo em hiper sonoridade (neologismo, ê). Ou será que eu que assisti alto de mais? Tenho uma certa agonia de não entender os diálogos travados e isso aconteceu o tempo todo. A cada vez que eu não entendia uma frase, aumentava o volume. Aí cheguei no máximo da TV. Talvez tenha sido o sotaque, mas acho que é intencional mesmo. Os sons do mundo, mais do que os diálogos, tem importância nessa construção. Praticamente não é necessário ouvir o que os atores falam para entender as cenas. Muy Bueno.

Quem já viajou pelo Nordeste encontra um retrato muito impactante do que vemos por lá. Trabalhadores rurais envolvidos na extração do coco, palmeiras lindas e gigantes, praias que ameaçam invadir a cidade, um mar azul, sem ondas, o serviço público triste, até. Eu estive em Alagoas no começo do ano e vi muito do estado ali. Também, Alagoas é vizinho de Pernambuco, estão ali colados, sobrevivendo mais ou menos das mesmas atividades. (Num momento do filme, da delegacia, é em Alagoas, repara só). Imagens maravilhosas ocupam incessantemente a primeira meia hora do filme, com a participação dos dois atores principais que eu achei muito bonitos. Ambos. Dandara de Morais e Geová Manoel dos Santos, interpretando Shirley e Jeison.

No final, comecei a me perder um pouco na história. Não sei se me distraí ou se o filme vai perdendo um pouco a força, quando não se decide pela história do captador de som, ou de Shierley e Jeison, ou ainda do mistério da caveira. A resenha promete: Os ventos crescentes marcarão os próximos dias da pequena vila colocando Shirley e Jeison numa jornada sobre perda e memória, a vida e a morte, o vento e o mar”. Essa questão da jornada ficou bem solta no final, o que não é de fato um problema geral, mas pessoal, acho. 

Eu fiquei de cara já com o trailer. Quando o filme começou foi olho grudado na tela. A imagem de abertura, quase PB, no barco; a imagem de Shirley e Jeison no barco, a insersão das trilhas sonoras de rock no meio daquelas imagens do interior. É tudo muito bem pensado, muito bem fotografado, enquadrado e dirigido. É uma aula de cinema.

O filme está disponível no  iTunes e no Vimeo On Demand! Mas fiquem ligados na page porque ele está sendo exibido em vários lugares. Eu, por exemplo, assisti no Canal Brasil ainda a pouco. No dia 30 de maio vai rolar reprise. Vejam o trailer e apaixonem-se! Pelo nordeste, pela fotografia e pela composição:)